Convém deixar algumas coisas muito claras de modo a explicar algumas das minhas palavras a seguir. O que os ingleses chamam de “disclosure”. Sempre fui um adepto da BMW em detrimento da Mercedes neste duelo de marcas alemãs. Talvez porque a marca bávara sempre se caracterizou por ter uma preocupação em alimentar a nossa veia mais desportiva e a marca da estrela por outro lado sempre apelou ao consumo mais elitista e conservador. Mas decidi abordar este ensaio de espírito aberto e tentar não ser levado por pré-preconceitos. Também sou muito mais apologista de mudanças manuais do que automáticas porque aprecio o controlo que tenho nos carros que conduzo e as automáticas que tenho experimentado não nos permitem esforçar as marchas de modo a ouvir aquele som que nos arrepia a espinha quando temos uma verdadeira máquina nas mãos. Outra coisa que faço questão é que não leio nenhum livro de instruções a não ser que não tenha conseguido por minha própria iniciativa encontrar as soluções. Isso dá uma ideia se pensaram num sentido mais prático e intuitivo para o condutor.
MERCEDES-BENZ E500
Bom, tirando toda esta introdução, vou então apresentar a bela máquina que tenho à minha disposição. É um brutal Mercedes-Benz E500 descapotável, com motor V8 de 5.5 litros e uns poderosos 387 cavalos que apetrecham 530Nm às 2,800-4,800rpm. Que tal esta contínua desbobinagem de palavreado técnico? Mas adorei todas estas características. E como é afinal? Lindo. Sim, essa é uma boa definição.
ESTÉTICA DELICIOSA E CAPACIDADE NOTÁVEL
Mesmo não sendo uma cor que eu aprecie num automóvel, o branco calhava mesmo bem nesta preciosidade. Repara bem na grelha frontal agressiva com as novas ópticas que agora parecem surgir transversalmente em toda a gama E. Neste caso, pequenos detalhes fizeram significativas melhorias na sua vertente mais desportiva. Depois teve a mão da equipa da AMG que fizeram a sua magia na estrutura geral e de equipagem. Jantes de 18″ polegadas e baixo perfil ajudam e muito a fazer esta bela máquina deslizar na estrada, o que auxiliados pela suspensão desportiva conseguem agarrar este bólide ao alcatrão. E acredita quando digo que este carro tem de estar bem agarrado à estrada…
Outra coisa que chama igualmente a atenção é a capota não ser rígida como hoje em dia está na moda. Parece que uma febre passou por todas as marcas e os conversíveis têm de ser com capota de fibra. Avanço já que se é por causa da insonorização, neste caso não é necessário. A 200km ainda mantém uma boa retenção de ruído exterior e só se começa a sentir um assobio crescente e aí sim algo incomodativo a 250km/h, mas também ninguém anda uma viagem inteira a essa velocidade, certo? Até porque é… ilegal!
O tablier está conforme devia estar organizado. Para alguns está demasiado confuso com demasiados botões que possam distrair, mas pessoalmente não me confundiu de forma nenhuma. Aliás, está bastante claro. Devo dizer que quando me entregaram o carro, estava com o painel de navegação, rádio e demais informação em alemão, portanto, não só tinha que descobrir como mexer com o painel como ainda numa língua que não domino minimamente. Mas até nisso os responsáveis da Mercedes pensaram e têm um sistema bastante simples para sabermos como mudar para a nossa língua nativa. Demorei apenas 3 minutos a encontrar a solução e quando isso aconteceu, demorou mais 1 minuto a refazer todo o interface para Português. Mas ficou óptimo. Tinha até uma senhora que falava em português comigo. Quer dizer, o básico, porque quando era informação mais complexa era em inglês.
Uma situação que considero que poderiam resolver seria a textura da cobertura do painel acima do tablier e que segue para as portas. Sei que poderá ser interessante devido a ser um conversível e que poderá resistir melhor a alguma intempérie, mas sinceramente a sua textura é muito igual ao de um Hyundai Getz e isso diz tudo num carro que custa uma pequena fortuna.
O volante é um mimo. Na dimensão certa para assegurar uma excelente condução, com os comandos correctos. Apenas devo dizer que não estou acostumado a que o comando de mudança de direcção e das luzes esteja tão em baixo e o que estava mais à mão no lugar onde esse anterior deveria estar era o comando de cruise-control. Passei a viagem toda a mexer nesse por esquecimento e habituação. Para alguém que está habituado, mudar essas pequenas coisas de sítio custa a assimilar numa condução intuitiva. As patilhas habituais atrás do volante para as mudanças manuais estavam no local correcto, no entanto devo referir que não se perdia nada se fossem um tudo-nada maiores, porque numa condução mais desportiva custa aplica-las na altura mais propícia.
Também acho que deveria ter os manípulos automáticos do assento no próprio assento e não na porta quase junto ao tablier, porque não é nada intuitivo e o primeiro sítio que procuramos é no próprio assento. Fora estas pequenas coisas, devo dizer que o espaço interior é incrivelmente espaçoso para um conversível que se pretende desportivo. E tem 4 verdadeiros lugares onde inclusive cabe à vontade uma cadeirinha de bebé das mais robustas. Eu experimentei com a minha filha de 2 anos e tinha até espaço de sobra para colocar os pés o que ela agradeceu com um “olha papá, mexo os pézis…”
Quando está de capota descida é dos descapotáveis mais belos que já vi. Está completamente proporcional e com uma estética irrepreensível. A linha contínua que vai dos bancos até à traseira está muito bem conseguida. A traseira com as ópticas que seguem toda a gama ganhou ainda mais impacto nesta versão onde à noite, sobressai com as luzes a seguirem a mesma linha da carroçaria lateral. Convido a reparar nesse pormenor delicioso em zonas sombrias.
Os bancos são bastante confortáveis e adaptam-se à nossa fisionomia devido aos inúmeros comandos de adaptação. Desde ao enchimento por todas as posições verticais e horizontais até mesmo ao apoio lombar. O banco literalmente molda-se ao nosso corpo. Dado curioso é que quando abrimos a capota e vamos com a temperatura do pescoço ligada, os apoios da cabeça sobem um pouco e disparam ar quente para o nosso pescoço para que não sintamos tanto as temperaturas mais frias. Uma delícia porque nos permite gozar desta condução ao ar livre até quando está um pouco mais fresco como foi o caso do dia do ensaio com uns sonantes 3 graus.
As duas saídas de escape devidamente embutidas na traseira generosa dão uma ideia da desportividade que lhe é natural, com um cromado bem definido e apelativo. Devo dizer que quando se fala em bagageira, existem duas situações distintas, aliás como parece ser uma característica em todo o carro. Uma capacidade realmente interessante quando está com a capota subida, onde poderá albergar cerca de uma malona das enormes e duas malas mais pequenas das que dão para levar como bagagem de mão no avião, sendo que com a capota descida, com a obrigação de baixar a protecção de plástico inserida, diminui e de que maneira a sua capacidade. Aí, praticamente consegue levar uma mala de viagem de mão e uma pequena pasta do escritório.
Parece ser uma constante duas faces neste bólide. O Dr. Jeckyl e Mr. Hide numa grande confusão de personalidades.
PERFORMANCE
Devo dizer que antes de fazer esta descrição, percorri cerca de 900 km com este Mercedes E500 e constatei que tanto pode ser uma excelente opção para carro do dia a dia, como para nos alimentar o ego e o prazer de condução.
Comecei em Madrid com um tempo realmente gélido e comecei por palmilhar os primeiros quilómetros como experimentação e adaptação ao carro. Mas assim que comecei a estar mais confiante, já desfrutei mais da viagem e pude fazer mais experimentos. Aqui estão algumas dessas análises.
Se não fizermos mais nada e deixarmos na opção “Drive” a viagem é uma maravilha de constância. Ou seja, o carro corresponde de forma inteligente à forma como colocamos o pé no acelerador. Se somos mais bruscos ele fica mais enérgico e dispara com mais dinâmica, se somos mais regulares, porta-se como um grand-saloon e é como qualquer carro de várias toneladas. Pesarote, mas confortável e robusto.
Imaginemos agora que queres experimentar os teus dotes de piloto e queres mudar para a opção de mudanças semi-automáticas com apoio das pequenas patilhas neste volante fantástico. Carregas no botão “M” junto ao pequeno stick na consola e disparas a primeira, segunda, terceira, quarta, quinta, sexta… e sétima. Isso mesmo. Sete mudanças ao dispor deste motor 5.5 litros do Mercedes E500. Um prodígio que parece que não acaba mais. E cada mexida nas patilhas, ouves um novo roncar mais furioso deste V8 como se fosse um pequeno urso que estão a acordar do seu sono de inverno. O conta-rotações sobe e desce como uma criança que não sabe que presente quer pedir aos pais pelo Natal. E o som, aquele som…
Devo dizer que fiquei inclusive surpreso com a aderência e comportamento e deslize nas curvas, coisa incomum num descapotável, mas imagino que os técnicos da Mercedes tenham colocado muita atenção a estes pormenores com o apoio da AMG. O que é um facto é que o E500 agarra-se e de que maneira ao asfalto. Muito provavelmente aos pneumáticos de baixo perfil, ao diâmetro dos mesmos e à suspensão desportiva AMG e aos contrapesos elaborados pela marca para manter estas toneladas bem alinhadas em curva.
SOLTEM A BESTA
Conforme tenho vindo sempre a referir, este Mercedes tem duas personalidades bem distintas e devo dizer que tem uma forma de fazer sair mais rapidamente o lado negro e divertido do E500. Tão simples como carregar num botão de seu nome “Sport”. E a besta fica solta. Literalmente solta.
O controlo de tracção e ajudas electrónicas ficam menos restrictivas e o acelerador responde sempre como se estivéssemos num dia mau e quiséssemos rebentar todas os asfaltos deste mundo. Simplesmente coloca todas as rotações do V8 em estados de desespero e os tempos de reacção ficam à milésima. Brutal!
Numa das estradas que experimentei fora da circulação pública, porque este tipo de testes de performance não devem nunca ser efectuados nas vias onde poderemos encontrar outros transeuntes ou condutores, a curva e a aceleração foi tão arrojada que derrapei de traseira a disparar gravilha para todo o lado e quase à saída da mesma, dei um cheirinho de aceleração para ver o E500 disparar em segurança para enfrentar a recta. Recta essa onde atingiu sem demoras os 250hm/h (contei em cerca de 10 segundos) e só não deu mais, porque esta estrada de propriedade não tinha mais para onde seguir. Por falar em não dar mais, convém sempre falar em travagem e os travões com selo AMG estiveram à sua altura na maior parte do tempo. No entanto, ao final de alguns testes mais agressivos começaram a denotar um certo aquecimento e portanto maior tempo de reacção.
EQUIPAMENTO DE LUXO
A versão que ensaiei vem com todo o equipamento extra que o corresponde, ou pelo menos assim pareceu, sendo de destacar o pack AMG:
“O visual desportivo do novo Classe E Cabrio é reforçado com o Pack Desportivo AMG. No exterior isso está patente pela saia dianteira e traseira AMG com aplicação preta, saias laterais e jantes de liga leve AMG de 18”, polidas, no design de 6 raios duplos. A suspensão desportiva AGILITY CONTROL, a direcção desportiva dependente da velocidade, os discos dos travões perfurados de grande dimensão e as pinças dos travões com inscrição Mercedes-Benz são destaques tecnológicos. Os modelos com motores V6 e V8 também estão equipados com duas saídas de gases de escape e terminais cromados.
O carácter dinâmico do Pack Desportivo AMG estende-se ao interior, incluindo bancos dianteiros multicontorno em pele ARTICO preta, com apoio lateral, opcionalmente em pele ou pele Confort e volante desportivo de 3 raios em pele Confort. As teclas de selecção no volante também fazem parte do Pack Desportivo AMG em combinação com a caixa de velocidades automática, bem como os pedais desportivos em aço escovado com nódulos de borracha e os tapetes com inscrição “AMG”. “
Também de destacar do equipamento que mais gostei: câmara digital para verificar estacionamento traseiro o que ajudou imenso; ar condicionado distinto para condutor, passageiro e passageiros de trás (3 zonas distintas); bluetooth e keyboard para telemóvel; excelente GPS assistido e suporte multi-lingua.
Aqui exploramos alguma informação da marca referente ao E500:
“Optional extras (selection)
Engines and chassis
AGILITY CONTROL sports suspension and speed-sensitive sports steering with more direct transmission ratio[1]
Automatic transmission (5-speed)[2]
Speed-sensitive steering[3]
Safety
DISTRONIC PLUS incl. BAS PLUS and PRE-SAFE® brake[4]
PARKTRONIC parking aid incl. Parking Guidance and parking space measurement
Speed Limit Assist
Child seat recognition in front passenger seat (automatic) with transponder
Reversing camera
Sidebags in rear
Telephony, entertainment and navigation
Audio 50 APS map navigation system
6-disc, MP3-compatible CD changer in glove compartment (for Audio 20 CD)
Digital radio (DAB)
Convenience telephony in the armrest with universal interface for mobile phone cradles, recharging function, exterior aerial for ideal reception[1]
Media interface: universal interface in glove compartment for various mobile audio devices
COMAND APS multimedia system incl. LINGUATRONIC voice-operated control system
Harman Kardon® Logic7® surround-sound system
TV tuner (for analogue and digital reception)
Exterior
AIRCAP
Trailer coupling, manually folding
Interior
THERMOTRONIC 3-zone luxury automatic climate control[5]
KEYLESS-GO drive authorisation system[4]
AIRSCARF neck-level heating in front
Leather upholstery (leather or nappa leather)
Wood/leather steering wheel
Multicontour seats for driver and front passenger
Wood gearshift/selector lever
Heated windscreen washer system & windscreen washer nozzles
Heated front seats
Front climatised seats, ventilated and heated
Equipment packages
Cabriolet comfort package
Anti-Theft Protection package
Dynamic handling package[5]
Light package
Memory package[5]
Mirror package
AMG sports package[1] Not available for E 500
[2] Optional for E 220 CDI BlueEFFICIENCY, E 250 CDI BlueEFFICIENCY and E 200 CGI BlueEFFICIENCY; standard for E 250 CGI BlueEFFICIENCY.
[3] Standard for E 350 CDI BlueEFFICIENCY and for E 500 in standard dynamic handling package.
[4] Only available in conjunction with automatic transmission.
[5] Standard equipment for E 500.”
Informação do Mercedes-Benz E500:
Mercedes-Benz E500 Cabrio V8
Cilindrada: 5.461
Potência: 387 CV (285kW/6.000)
Binário: 530/2.800 – 4.800
Aceleração 0/100: 5,3s (anunciada) – 6s verificada
Velocidade máxima: 250km/h restringida electrónicamenteEmbraiagem: Automática (7 variantes)
Consumos: Cidade 15,9l / Exterior 8,2l / Misto 11l
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